Destiny (Justin Bieber) - Capítulo 7


Acordei cedo demais no dia seguinte, meus olhos não me obedeciam. Eles queriam ver o dia na manhã de Paris. Eu estava cansado e sem sono. Me sentei na cama ao som do chuveiro e suspirei. O acontecimento da noite anterior pairava sobre minha mente me atormentando já cedo. Mesmo pela hora, levantei perto do meio dia e fui até ela que se encontrava lendo na sacada.

- Nick ligou.

Ela continuou calada como se eu não estivesse ali.

- A reunião foi adiada para hoje depois do almoço.

- Já estou sabendo. - Falou friamente e em seguida se levantou me deixando sozinho.

Minha paciência estava mesmo sendo testada, mas eu aguentaria até onde pudesse. Estávamos os dois parados na frente a porta da sala em que apresentaríamos nosso tão aguardado projeto. Todos já nos esperavam lá dentro, respiramos fundo. 

Você

Eu estava apavorada. Pareciam que todos os meus métodos de apresentação aprendidos durante todo esse tempo foram simplesmente esquecidos.

- Acha que vai dar certo? - Olhei para ele, e logo um flashback doloroso atingiu minha mente.

Flashback - Narrador 

Pela primeira vez desde que oficializaram o casamento, estavam parados em frente a porta de madeira. Estavam prestes a entrar pela nova casa na vida de "finalmente casados". Ela estava nervosa com a mão na maçaneta enquanto ele a encarava. 

- Acha que vai dar certo? - Perguntou ela temerosa.

- Claro, agora somos o Sr. e Sra. Bieber. - Sorriu a tranquilizando. 

Off

- Claro. - Respirou fundo, me encarou por alguns segundos e logo seus olhos fitaram o chão.

Ele havia se lembrado também, e assim como eu sabia que sua frase estava incompleta.

Abrimos a porta e percebi cerca de dez pessoas nos encarando ansiosas, por puro nervosismo começamos logo.

- Boa tarde, sou (NomeCompleto) e esse é o meu marid... - Pausei nervosa. - ...Parceiro, Justin. Nos foi proposto há alguns dias atrás um projeto grande para a Sweet Models e admito que foi um grande desafio construir algo tão trabalhoso em poucos dias. Mas nós finalmente criamos algo ótimo e creio que superamos expectativas. - Olhei para Justin para que ele desse continuidade, mas nada.

Ele me observava atentamente, parado e por algum motivo, seus olhos brilhavam. Justin me encarava como se estivéssemos sozinhos, ele parecia completamente despreocupado com o projeto. A sua maior preocupação no momento, era me analisar. Eu não o compreendia e tenho certeza de que as outras pessoas ali muito menos. Seu olhar era significativo e sabia muito bem disso, como sabia.

- Bom, ficamos entre três opções de projetos. - Retomei sozinha. - Mas depois de difíceis decisões, achamos o projeto perfeito. - Apontei para o telão onde mostrava em slides nossa incrível planta do prédio.

Arrancamos palavras positivas de todos presentes ali, mas aquilo não diminuía meu maior problema. Ele continuava parado. Suspirei grandiosamente assim que saímos da sala, o projeto foi muito bem aceito, mas eu ainda não havia compreendido Justin.

- Você enlouqueceu? - Gritei assim que chegamos no hotel. - Você me deixou na mão seu idiota! Se fosse para fazer isso sozinha, me avisasse antes que iria me fazer passar vergonha!

- Me desculpe, eu realmente... - Tentou explicar.

- Não Justin! - Gritei ainda mais alto e sai da presença dele. - Como sempre, confiar em você é uma decisão horrorosa!

- Não fala assim... - Foi o que ouvi ele suplicar antes de eu fechar a porta e me trancar no banheiro.

Respirei fundo, eu me recusava a lembrar do ocorrido. Não, eu não havia passado vergonha, mas podia ver claramente a interrogação dos contratantes em relação a Justin parado como uma estátua atrás de mim. Aquilo foi realmente o cúmulo para mim, não havia entrado nessa para trabalhar sozinha.

- O que está fazendo? - Me perguntou enquanto eu jogava as coisas dentro da grande mala. Eram quase sete horas, eu estava atrasada.

- Vou embora, claro. - Falei óbvia sem encará-lo.

- Achei que queria passear mais por Paris. - Me olhou confuso.

- Meu voo sai hoje á noite. E aliás, você não acha que já aturamos um ao outro demais? 

- Não. 

- Eu acho. - Dei ombros. - Bom, tenho que ir. 

Ouvi um alto suspiro da parte dele. 

- (Nome), eu preciso falar com você... 

- Ah, eu adoraria ouvir suas ladainhas, mas eu realmente tenho que ir. - Coloquei a grande mala de rodinhas no chão. 

- Espera, é sério. - Me seguiu.

- Estou atrasada, com licença. - Continuei em direção a porta. 

- Me ouve, é importante... - Tentou me segurar, mas me esquivei.

- Te vejo em Washington. - Bati a porta. 

Não demorei a achar um táxi que me levasse para o aeroporto. O Charles de Gaulle ficava há vários minutos do hotel e eu tinha possibilidades de perder o voo, mas geralmente as coisas costumavam dar certo. Foi quase impossível, mas por sorte consegui chegar a tempo de pegar o voo. Foi uma longa viagem mal descansada e cheguei com um grande nível de exaustão. 

Eu já estava em casa e estava na noite de domingo. Apenas terminando o meu relatório eu já pensava em descansar. Eu já teria que comparecer a empresa no dia seguinte bem cedo para entregar o relatório e falar com meu chefe. Segundo Nick, Justin pretendia ficar mais um tempo lá, mas como voltei, as despesas dele não seriam mais pagas pela empresa o obrigando a voltar no dia seguinte. Respirei fundo, assim que terminei de escrever a última palavra me deitei exausta na cama e não demorei a dormir. 

Relatório pronto, coisas em ordem, casa arrumada. Nada para me preocupar. 

Eu andava pelo longo corredor que me levava até a sala de Nick. Como sempre meu perfeccionismo não me permitia chegar antes de estar pelo menos cinco minutos adiantada. Bati na porta e após a permissão, entrei com um sorriso no rosto. 

- Bom dia. - me aproximei, mas de repente percebi uma presença a mais. 

Justin? Impossível, a única forma dele chegar aqui antes de mim é se eu morrer. O que não é o caso, claro.

- Deve estar tão surpresa quanto eu, suponho. 

- Claramente. - Me sentei confusa enquanto observava o sorriso maroto de Justin. 

- Bom, eu queria esclarecer hoje que estou muito orgulhoso de vocês. Eu já esperava que fossem me dar essa dádiva, mas não esperava que fosse tamanha como é. 

- Obrigado. - Falamos juntos. 

- Porém, não chamei vocês aqui para isso. - Respirou fundo e nós o olhamos confusos. - Uma das pessoas presentes lá me ligou relatando tudo sem deixar um detalhe para trás. Justin, o que ocorreu lá? 

Cruzei os braços, eu esperava pela mesma resposta. 

- Boulevard, é complicado... - Gesticulou nervoso. 

- Você poderia ter comprometido a apresentação e isso é inadmissível. Vocês estão juntos e isso não depende apenas de um, por isso são parceiros. Eu queria vê-los bem de verdade e não foi isso que vi. Então exatamente por esse motivo fui obrigado por mim mesmo a tomar atitudes severas quanto a isso. - Cruzou os braços. 

- Atitudes severas? - Perguntei.

[...] 

- "Terapia para casais"? - Justin leu o letreiro em frente ao prédio. - Esse velho enlouqueceu? 

- Eu não sei, só não quero ser demitida. 

Assim que entramos percebi ser um local bem organizado e havia alguns vasos de flor espalhados. 

Mal chegamos e já fomos chamados. Algo me chamou atenção assim que entramos na espaçosa sala, não estávamos apenas nós dois, mas sim outros sete casais. 

- Mas que porra é essa? - Justin disse alto. 

- Cala boca. - O dei uma forte cotovelada. 

Celeste, a psicóloga que acompanhava todos nós, nos colocou em cadeiras primeiramente fazendo reconhecimento. Nos apresentamos assim como as outras sete duplas e aquilo me parecia interessante. A única parte ruim era Justin, sempre soltava comentários altos e sarcásticos o tempo todo demonstrando que não queria estar ali. Típico.

- Aqueles dois não têm problemas, eles transam o tempo todo. Não é difícil perceber, olha a mão atrevida dele. - Justin cochichou para mim apontando um casal. 

- Transar não significa estar bem. - Falei no mesmo tom. 

- Ah, significa sim. Pelo menos para nós significava... 

- Cala boca! - O estapeei forte. 

Vi Celeste nos observar com cara feia, estávamos atrapalhando sua aula. Soltei um “desculpe” quase inaudível e quando ela ia prosseguir, Justin a interrompeu.

- Tenho uma pergunta. - Ele levantou a mão e Celeste fez para que ele prosseguisse. - Transar significa estar bem? Porque ela está duvidando de mim. - Apontou para mim que àquela altura já estava como um tomate.

Celeste olhou para cima pensando, e logo disse:

- É uma questão muito interessante, porque de certa forma vocês estão se comunicando. E não só no ato, mas também antes dele tem que haver uma comunicação para saber o que o outro quer. A frequência sexual também diz se vocês estão bem ou não, ou seja, sexo é sim estar bem. - Ela sorriu para nós.

Eu estava com um anseio de morte, ele nunca havia exposto nossa vida sexual assim, tão abertamente para ninguém. Mesmo indiretamente, ele havia feito isso.

- É realmente complicado uma aula como essa, estamos todos aqui praticamente expondo nossas vidas para outros e isso normalmente não é confortável. Mas no momento, eu gostaria que todos vocês se levantassem e se colocassem de frente um ao outro. - Ninguém se opôs, todos fizemos o que nos era pedido. - Realmente acho que isso não seria apropriado para primeira aula, mas por favor, preciso que se sintam mais à vontade. 

Todos olhavam confusos para ela, o que ela queria?

- Por que estão aqui?

A sala toda deu ombros e logo ouvi baixos cochichos. Olhei para Justin e dei ombros, nem um de nós sabíamos. 

- Não faço ideia. - Justin disse baixinho observando os outros casais. 

- Eu muito menos. - Bufei. 

- Bom, creio que estão aqui para resolver problemas no casamento. - Não exatamente... - Vamos aproveitar essa oportunidade de que estão frente ao outro e repitam comigo olhando para os olhos de seu parceiro. "Eu me comprometo a tentar salvar o nosso compromisso." Revirei os olhos, eu não repetiria absolutamente nada daquilo. Não há chances de salvar algo que não existe mais, com toda certeza era um absurdo. Ouvi Justin bufar e me olhar bravo, se ele concordava ou não eu não ligava. 

Não demorou a acabar todo aquele pesadelo. A primeira aula como de costume era apenas um teste, mas sabíamos que teríamos que frequentar todas elas. 

- Sr. e Sra. Bieber! - Celeste nos gritou antes mesmo de sairmos. Me virei rapidamente. 

- (Nome), me chame assim. Por favor, não somos casados. 

- Perdão. - Sorriu sem graça. - Preciso falar com vocês.

Nós a seguimos até sua sala e logo sentamos juntos em um sofá macio enquanto ela se posicionava recostada em sua mesa. 

- Nicholas me falou sobre vocês, posso dizer que me senti interessada na história de vocês. 
Ri sarcástica. 

- Não temos uma história. 

De canto de olho, percebi Justin me observar. 

- Vocês são a história, (Nome). 

- Celeste, nós não temos mais nada. Nem sabemos por que estamos aqui! 

- Não foi o que Nicholas me disse. - Cruzou os braços. - Vocês são um casal tão lindo, mas para isso dar certo vocês têm que se dar a chance de ao menos tentar. - Eu ia protestar, mas ela não me deu a chance. - Pouco me importa se não são casados, isso não vem ao caso. 

Aquela mulher estava maluquinha. Como ela podia dizer em plena terapia para casal que eles não precisam ser um casal para participar? 

- Celeste, com todo o respeito, mas eu não queria estar aqui. 

- Compreendo, mas enquanto meu marido não vê-los conseguindo sobreviver sobre o mesmo escritório vai ser complicado. 

Meu queixo caiu sem dó. 

- Vocês são...? - A olhei surpresa. 

- Casados? Sim. A placa lá fora consta "Celeste Marie Boulevard". - Falou risonha. - Bom, voltando ao rumo do assunto. Hoje, percebi que vocês foram o único casal que não fez o juramento. Gente, esse é um passo importantíssimo antes de começarmos com as aulas. Se não respeitarem as normas, vamos ter problemas futuramente...

- ‘Tá, ‘tá. - Bufei. - Eumecomprometoatentarsalvarnossocompromisso. - Falei rápido. 

- Meu Deus! - Celeste gritou. - Se levantem agora e façam o juramento como deve ser feito! - Para uma psicóloga, ela me parecia muito alterada. 
Relutante a obedecemos e demos as mãos. - Agora falem. 

Respirei fundo e olhei para ele. Aqueles olhos castanhos me observavam atentamente apenas aguardando as palavras, Justin permanecia quieto desde que Celeste nos fez ficar. Me parecia estranho, mas ainda sim deixei para lá. Pausei os pensamentos, pisquei várias vezes e resolvi.

- Justin, eu me comprometo a tentar salvar nosso compromisso. 

Provavelmente por uma leve alucinação pude perceber um pequeno e leve sorriso brotar em seu rosto. Tão pequeno que quase passou despercebido. 

- (Nome)... - Ele olhou para o chão e respirou fundo. 

- Para ela, olhe para ela Sr. Bieber. - Ouvimos a voz dela. Ele demorou um certo tempo que até cheguei a pensar que não diria mais. 

- (Nome), eu me comprometo a salvar o nosso compromisso. - Falou de uma vez. 

Mesmo depois de terminar a frase continuou olhando. Seu olhar transmitia algo que eu não me lembrava, mas me trazia uma grande nostalgia. Ele queria me dizer algo, eu conhecia seus olhos o suficiente para saber disso. Eu sabia bem que ele havia alterado a frase, eu havia percebido que ela não estava como deveria estar, mas não diria nada.

- Maravilha! - Celeste ressaltou nos fazendo perceber que ela existia. - Vejo vocês na quarta-feira, até mais! Saímos de lá e cada um seguiu seu rumo, nem trocamos palavras apenas fomos pra respectivas casas.


Destiny (Justin Bieber) - Capítulo 8


No dia seguinte eu estava mandando um e-mail para meus pais quando percebo que ele estava em minha frente. Ah, eu ainda não conseguia compreender o porquê de ele entrar sem bater.

- O que eu disse sobre bater? - Revirei os olhos enquanto ele se aproximava. O mesmo portava uma expressão séria.

- Temos outra proposta. - Jogou uma pilha de papéis grampeados na minha mesa.

- E qual seria? - Me estiquei e peguei os papéis.

- Temos que projetar um quarto. Já nos contrataram várias vezes. Se lembra daquele casal? Sarah e Josh Robinson?

- Claro, o que eles estão planejando dessa vez? - Comecei a ler a primeira folha.

- Estão sem espaço na casa e agora estão precisando mais do que nunca porque... Sarah está esperando um bebê. - Respirou fundo e se sentou na poltrona a minha frente.

Dei uma breve observada na direção de Justin e pude perceber que ele estava um pouco nervoso. Balançava a perna o tempo todo enquanto observava o movimento de seus dedos. Suspirei e cruzei as pernas.

- E... eles precisam disso para quando?

- Está tudo escrito bem aí. - Continuou sem me olhar.

Apertei os lábios e passei os olhos no papel.

Blá, blá, blá... Sarah e Josh Robinson... Blá, blá, blá... Quarto grande... Prazo: um mês.

- Um mês? Ficaram malucos. - Ri sem humor. - Não dá para construir um quarto de vinte e seis metros quadrados em um mês, quem dirá decora-lo. - Suspirei ganhando a atenção dele. - Vou conversar com ela. - Me levantei já indo em direção à estante do local para pegar minhas pastas.

- Eu estava pensando... - Ouvi Justin ao longe. - Talvez devêssemos rejeitar.

- Rejeitar? - O olhei confusa. - Claro que não, é um trabalho bom. Por que rejeitaríamos isso?

- Você sabe... - Olhou para baixo. - Nós estamos... fazendo outros projetos, isso pode ocupar demais nosso tempo.

- Outros projetos? A maioria deles já está no fim. - O olhei estranhando.

Ele iria protestar novamente, mas apenas respirou fundo, se levantou e saiu da sala. Não me deu explicações nem nada, simplesmente deixou meu escritório. Obviamente que não entendi aquele comportamento, mas era Justin. Se eu tentasse compreender, ficaria ainda mais confusa.

No outro dia, conversamos com o casal e entramos em um acordo. O quarto seria menor, pois assim atingiríamos o prazo desejado. Mas a tarefa não tinha diminuído, porque eu e ele teríamos apenas algumas horas para fazer esse projeto. O que tem demais nisso? Bom, nada. Apenas ficaríamos até mais tarde na empresa para concluir o projeto.

- Por que você não quer ir? - Ele perguntava pela milésima vez, eu já estava irritada.

Estávamos na minha sala. Eram quase dez horas da noite e a empresa estava vazia. Provavelmente só os nossos carros estavam no estacionamento. 

- Mas que merda, eu não vou para o seu apartamento. - Movi novamente o computador.

- Não consigo entender o porquê você prefere ficar com a bunda colada nessa cadeira ao invés de terminar isso em um sofá confortável.

- Estamos trabalhando, não tomando um coquetel. - Revirei os olhos. - E essa sua frase só deixa a inocência de lado. 

- Eu sei. - Sorriu e piscou.

Revirei os olhos. De novo.

- Já terminou a planta? - Observei ele com aquele grande papel ocupando a mesa.

- Quase. - Respirou fundo. - Já terminou a pesquisa de móveis?

- Quase.

Nos calamos por um tempo, mas ele logo retomou a "conversa".

- Imagino que Josh deve estar muito satisfeito com o fato de que terão um filho. - Suspirou.

 - É, eles terão um menino lindo. - Pronunciei sem olhá-lo, e não, eu não cairia na dele. Indiretas não iriam funcionar comigo.

- Sim. Sarah disse que planejaram por anos...

- Exato, quem quer planeja. - Continuei o trabalho.

- Nem sempre, as vezes as coisas acontecem naturalmente. - Ele já estava me encarando antes, mas naquele momento, parecia que seus olhos queimavam em minha direção. 

- Terminei. - Sim, eu mudei ligeiramente de assunto. 

Percebendo isso, ele pareceu desistir.

- Faltam apenas algumas coisas, acho que vou terminar em casa. - Se espreguiçou e fez o mesmo.

- Se é assim, então eu já vou.

Me levantei arrumando e pegando minhas coisas, e devo dizer, eu estava extremamente exausta. Meu expediente havia acabado há cinco horas e eu não aguentava mais. Minha sala estava uma bagunça de papeis amaçados e sujeira de lápis, mas eu daria um jeito de organizar no dia seguinte. Sem ao menos me despedir, saí pela porta e peguei o elevador. Eu já estava me aproximando do carro quando ouvi ele me chamar.

- Ei! - Justin correu e parou ofegante próximo a mim. - Esqueceu seu celular.

- Correu tanto só para me entregar isso? Poderia me entregar amanhã. - Ri. - Mas, obrigada.

Peguei o telefone de sua mão e me virei para destrancar o carro.

- A foto ficou legal. - Falou em meio ao barulho das minhas chaves.

Paralisei. Eu havia me esquecido completamente daquilo. Ele estava falando do meu protetor de tela. Era a foto que tiramos em Paris.

- É... - Falei ainda sem me virar.

- Me fez lembrar de quando ainda estávamos juntos... - Senti ele se aproximar e o olhei de canto de olho. - Você adorava tirar fotos nossas o tempo todo. - Segurou meu braço me virando lentamente para ele.

- Na verdade... - Tentei falar, mas ele me interrompeu bruscamente com sua aproximação. Ele havia acabado de soltar meus braços, mas colocou suas mãos em minha cintura me puxando. - Olha, eu preciso ir para casa.

- Você sente a minha falta? 

Foi uma pergunta tão repentina que até demorei para responder.

- O quê? - Falei sem entender, sem contar que a proximidade exagerada dele me incomodava.

- Só me responda. Sim ou não já é o suficiente...

- Você enlouqueceu? Eu preciso descansar e você também! - Tentei me soltar, mas ele me apertou ainda mais.

- Seus olhos não sabem mentir. - Me prensou no carro.

- Justin, o que está fazendo? - Me assustei.

- Apenas aceite. - Começou a se aproximar.

Ele foi chegando ainda mais perto do meu rosto, o que me parecia impossível. Eu sabia muito bem o que aconteceria ali se eu permitisse. Não sabia o que ele queria, mas estava com medo de realmente ser o que passava em minha mente. Aquilo não estava correto, não estávamos juntos, não podíamos. Ele parecia não se importar com nosso status de relacionamento, porque apenas nos aproximava mais e mais. Eu já sentia sua respiração se fundindo com a minha, mas...

- Não! - Gritei, o empurrei e por instinto o dei um tapa no rosto.

- O que foi isso? - Me olhou confuso com a mão no local atingido.

- Nunca mais faça isso!

Entrei no carro o deixando sozinho. Minhas mãos tremiam e minha respiração estava descompassada. Liguei o carro e rapidamente me encontrei longe dali.

- Meu. Deus. - Arregalei os olhos. - Que porra... que porra foi aquela?

Justin

Assim que ela me deixou olhando para o nada no meio do estacionamento, bufei e passei as mãos pelo cabelo nervoso.

- O que deu em mim? - Perguntei a mim mesmo completamente confuso.

Eu só podia estar maluco mesmo, eu quase a beijei. Aquilo não fazia sentido algum, eu tinha pirado. Com certeza havia algo de muito errado comigo.

Voltei para a sala dela para pegar meus pertences, mas também observei coisas. Por minha percepção, ela não havia feito desenhos do quarto do pequeno Lucca, ela já havia pulado para a parte da compra dos móveis. Olhei para a gaveta de ideias dela e me aproximei. Porém por um instante, recuei. Não era certo invadir a privacidade dela. Respirei fundo, mas acabei prosseguindo.

Ao abrir, vi uma pasta preta em baixo de todas as outras. Essa me despertou curiosidade por não portar algo escrito como as outras, então diretamente a peguei. Me sentei no grande sofá ao fundo da sala e abri a pasta. Instantaneamente, vi de cara vários desenhos de projeto e me surpreendi. Aqueles não eram projetos de trabalho, não eram comuns como reformas, eram específicos e muito claros. Tão claros que fizeram o meu coração bater mais forte, eles faziam parte dos meus planos com ela. Ela estava me escutando, só não me dizia...

Depois de olhar todos detalhadamente e com carinho, tirei um deles da pasta. Claro que eu nunca deixaria pistas com um plástico sem nada, então o substituí pelo último.

Eu estava exausto, terminei a planta tarde e ainda por cima havia dormido mal. Nem parei na rua para um café, apenas fui para o trabalho.

Assim que me sentei na minha cadeira, um estagiário me avisou que eu precisava estar na sala da "Sra. Bieber", e devo dizer, gosto muito desses caras desinformados.

Assim que parei em frente a porta dela, um temor me atingiu. Me lembrei do que eu havia pego. Eu só esperava que ela não tivesse notado a falta do desenho.

Quando abri, vi a presença de um casal e me trouxe alívio. Eu não estava encrencado.

Me aproximei enquanto (Nome) mostrava um projeto.

- Estou impressionada, mas não surpresa, vocês sempre conseguem superar meus desafios. Praticamente construíram minha casa inteira... - A mulher revelou sorridente.

- Desculpem o atraso, bom dia. - Sorri, eu nem sabia que estariam aqui.

- Bom dia. - Disse o casal.

- É isso. - Ela praticamente me ignorou e continuou a falar com eles.

- Querida... - O rapaz disse como se a esposa quisesse dizer algo.

- Tudo bem, preciso pedir algo. - Nos olhou. Eu estava parado do lado de (Nome) e a mesma assentiu para que a moça continuasse. - Vocês querem ser os nossos padrinhos?

A mulher ao meu lado ficou boquiaberta e feliz enquanto eu olhava confuso para o casal. O que as pessoas têm hoje em dia que sempre nos obrigam a ficar juntos em alguma situação, e quem eram aqueles dois?

- Aceitamos! - (Nome) disse quase gritando.

O casal falou por um tempo e logo se despediram. Eu ainda estava confuso.

- Quem são aqueles dois? - Cruzei os braços, eu estava em pé.

- George e Ashley.

- Esses nomes não me são estranhos.

- Eles fizeram meu vestido de noiva.

- Ah, claro. - Me recordei. - Achei que ele era gay.

- Só porque um cara trabalha com costura não significa que não seja hétero. - Revirou os olhos.

O dia passou lentamente e os Robinson vieram ver o projeto. Eles aprovaram e começariam o trabalho logo.

Nisso, em exatos dezoito dias, a tal reforma já havia começado e lá estava eu plantado na porta do futuro quarto. Eu já havia terminado a minha parte e admito que corri contra o tempo, mas consegui.

- Ei, como está indo? - (Nome) apareceu no quarto.

- Minha missão eu já cumpri. - Cruzei os braços e sorri para ela.

- Ótimo, agora é a minha vez. - Suspirou. - Tire o seu pessoal daqui para eu poder começar.

Logo lá estava ela sozinha dentro do cômodo branco medindo paredes e andando por todos os lados.

- Ah! - Sarah entrou feliz. - Está lindo!

- Espere só para ver como irá ficar. - Falei a ela.

Saímos nós dois para o jardim da frente da casa e em meio ao silêncio, Sarah falou.

- Vocês não pensavam em ter filhos? - Me olhou curiosa enquanto acariciava cuidadosamente sua barriga.

Respirei fundo e a olhei um pouco incomodado.

- Bom... na verdade, só eu pensava. E talvez esse tenha sido o maior motivo de nossa separação. 

- Não quero parecer intrometida, longe disso. Mas por que vocês não entraram em um acordo? Por que se separaram?

- Eu não queria pressioná-la, mas acho que acabei fazendo. Ela quem entrou com o pedido de divórcio e não me deu motivos, apenas me disse para procurar outra pessoa pois ela não me queria mais. 

- Meu Deus! - Ela me olhou indignada. - E qual era o seu desejo? Menino ou menina?

- Uma menina.

Ficamos em silêncio por segundos, mas logo ela retomou.

- Era o seu maior sonho, não é? - Me olhou sincera.

- Ainda é. - Sorri fraco.

Percebi que ela iria acrescentar mais algumas coisas, mas (Nome) apareceu.

- As medidas estão corretas. - (Nome) suspirou aliviada. - Vou começar as compras.

Ela estava indo em direção ao carro, mas Sarah a puxou.

- Eu estava pensando... - Falou ela envergonhada. - Justin, você não quer ir com ela?

Nome) me olhou confusa e eu apertei meus lábios. Mas que merda.

- Para que? - Perguntou confusa.

- Ahn, para ajudar. - Sarah me empurrou em cima dela. - Vai.

Mesmo contra a vontade dela, a acompanhei. Durante o caminho todo, ela não dirigiu uma só palavra a mim e muito menos me olhou. Porém sempre que podia, suspirava alto em significado de que não me queria ali.

Assim que entramos na loja, ela já ia de um lado para o outro olhando móveis e mais móveis. Ela fazia as coisas tão rápido que mal dava para aproveitar, ela nem curtia o que estava fazendo. Ela era muito enjoada, tão enjoada que quando eu achava que escolheria algo, ela desistia e pulava para outro.

- Ei, vai devagar. - Parei na frente dela.

- Sai da minha frente, eu tenho que terminar isso hoje e ainda não encontrei nada. - Me empurrou.

- Quer ajuda?

- Não. - Falou arrogante.

- Ok. - Respirei fundo e continuei a segui-la.

Acabou que andamos por todos os cantos da loja, mas nada encontramos. Bom, nada ela encontrou já que eu só estava lá de enfeite. No final, fomos embora sem nada.

Só não voltamos para a casa de Sarah pois no meio do caminho, ela nos ligou dizendo que ela e Josh estavam indo até uma consulta ao médico.

Poderíamos sim ter ido novamente a terapia de casais, mas estávamos cansados demais para isso.

No dia seguinte, logo que me levantei já pude ver um e - mail com o endereço de Celeste. Ótimo, mesmo sem ir ela ainda pode mandar em nós.

"Dica do dia: Não pensem apenas em si mesmos, mas se lembrem: vocês são um. Procurem não discutir, sempre resolvam as coisas com uma conversa civilizada. É importante que sempre procurem o bem-estar daquele que quer o seu."

- Como se ela quisesse o meu bem-estar... - Falei revirando os olhos.

Cheguei apenas a tarde na casa de Sarah por alguns problemas com a empregada. Quando entrei no quarto da reforma, vi que (Nome), Josh e ela conversavam seriamente sobre algo que parecia importante.

- Boa tarde, desculpem o atraso. Eu tive alguns... - Antes de eu terminar a fala, Sarah me interrompeu.

- Que bom que chegou. - Me aproximei. - Por favor, convença ela! - Me olhou suplicando.

- Convencer de que?

- Bom, é que na verdade é uma menina...

A olhei surpreso e impressionado.

- Uma menina? Parabéns. - Sorri.

- Obrigada. - Riu, estava claro que ela estava ainda mais feliz.

- Mas então... por que tenho que convencê-la?

- Ela disse que não dá para planejar o quarto novamente dentro do prazo. Justin, por favor faz ela mudar de ideia!

A olhei confuso.

- É claro que dá. Faremos o possível.

- Justin! - (Nome) me olhou nervosa. - É muita coisa para fazer em tão pouco tempo!

- Não precisa se preocupar, eu te ajudo. - Olhei para ela por um tempo.

- Isso, ele te ajuda! Por favor... - Sarah implorou de mãos juntas para ela.

- Ok. - Revirou os olhos.

- Ótimo, obrigada! Amo vocês! - Sarah se animou.

(Nome) sorriu, mas eu sabia bem que ela me mataria mais tarde. Ela só não havia me aniquilado ali por conta dos clientes, pois caso contrário eu já estaria estirado no chão.

Mesmo contra a vontade dela, nós concordamos em fazer esse projeto assim que saíssemos da casa de Sarah, e isso não demorou a acontecer. Já no começo da noite, saíamos da casa.

- Eu queria tomar um banho antes, acho melhor eu ir para casa primeiro. - Falou ela enquanto íamos em direção aos carros.

- Não, você demora demais. - Entrei no meu carro.

Quando chegamos com respectivos carros no meu apartamento, subimos. Ela me olhava desconfiada e sempre que podia, me olhava feio. Lá vem ela... Destranquei a porta e a abri.

- Bem-vinda. - Sorri a dando espaço para entrar.

- Tanto faz, vamos terminar isso logo. - Revirou os olhos.

- Tudo bem... - Olhei para baixo, mas eu não iria desanimar.

Fechei a porta e ela ficou me olhando. Cruzou os braços e revirou os olhos, de novo.

- Não vai me convidar para sentar?! Meu Deus, agora sei porque ainda não arrumou ninguém...

Foi minha vez de revirar os olhos, como ela era chata.

- Para de frescura e senta logo! - A empurrei no sofá.

Você

Comecei o projeto logo, sem enrolação. Justin me tirava do sério muito fácil, então antes que isso ocorresse, eu queria estar mais ocupada possível.

- O que acha de um quarto lilás? - Se sentou ao meu lado colocando folhas a3 em cima da mesa de centro.

- Parece interessante. - Me afastei um pouco antes de continuar. - Mas acho que seria melhor se as paredes fossem em um cinza claro com decorações em rosa.

- Por mim, sem problemas.

Ele fala como se eu precisasse da permissão dele para fazer alguma coisa. Continuamos a planejar móveis e cores, estava um pouco menos entediante do que eu me lembrava. Ele parecia estar gostando da ideia de me ajudar, mesmo que suas ideias não fossem tão bem aceitas.

- O que acha de colocarmos um adesivo de uma árvore grande? - Me olhou esperançoso.

- É uma ótima ideia! - Me surpreendi animada. - Ela poderia ser inteiramente branca para contrastar com o papel de parede.

- Sim. - Concordou ele.

Sorri e comecei a anotar no papel as ideias que já tinha em mente. Logo eu começaria com os desenhos.

Enquanto eu fazia uma breve anotação importante, percebi um movimento estranho. Olhei instintivamente para o lado e vi que ele desabotoava a camisa social que usava deixando seu peito a mostra. Preferi não dizer nada, apenas voltei as anotações.

- Então... - Olhei para baixo o evitando. - Em que tipo de árvore você se refere?

- Bom. - Pulou do meu lado se sentando quase em cima de mim para alcançar os papéis na pequena mesinha e pegou um lápis. - Talvez uma árvore de outono com poucas folhas e outras ao vento. - Começou a desenhar enquanto metade de seu corpo me apertava contra o sofá.

- Ahn, parece bonita. - Tentei me afastar, mas eu já estava na ponta do sofá e o braço do mesmo me impedia. 

- O que achou? - Me olhou assim que finalizou o desenho da árvore.

- Bonita... - Foi a única coisa que consegui dizer.

Ele me encarou e riu fraco. Percebeu que fiquei sem graça.

- Continuando... - Falei tentando disfarçar, mas não funcionou. Então fui direto ao ponto. - Pode abotoar isso? - Apontei brava.

- Estou te distraindo? - Sorriu malicioso.

- Abotoa logo. - Desviei o olhar, mas logo ele voltou.

- Não. - Tirou a camisa e a jogou longe. - Se controle. - Riu ele sarcástico.

Claro, aquilo poderia sim ser uma visão normal. Isso se eu não estivesse tanto tempo sem sexo.

- Cala a boca. - Revirei os olhos.

- Que tal você fazer isso por mim? - Mordeu o lábio inferior e automaticamente um arrepio gélido passou pela minha espinha.

- Justin... - O olhei em aviso.

- Ótimo, agora diz isso gemendo. - Cerrou os olhos com um sorriso safado no rosto.
Ele se aproximava descaradamente de mim.

- É sério, chega. 

O empurrei e me levantei do sofá. Porém antes que eu me desse conta, ele já havia puxado o meu braço me fazendo cair no colo dele. Ele apenas se deu o trabalho de me colocar sentada com uma perna de cada lado de seu corpo.

- Você enlouqueceu?! Para com isso agora! - Gritei exasperada.

- Pare você de fingir que não está afim. Você é uma garota esperta, me ataca de uma vez e para com essa frescura toda. - Beijou meu pescoço e permaneceu ali por um tempo.

- Justin, por favor... - Respirei fundo tentando manter o controle. - Para...

- É só sair, não estou nem te segurando. - Pausou a língua no meu pescoço por um tempo, mas logo retomou o ato.

Aquilo era uma grande armadilha. A língua dele em meu pescoço era como uma algema que me impedia de sair dali. A minha mente dizia que não, mas meu corpo mal podia responder, quem dirá obedecer. As mãos dele passavam por todos os cantos do meu corpo e não paravam em lugar nenhum.

Lentamente, minhas mãos foram subindo por seus ombros e logo eu já estava o estimulando para que continuasse. Eu não conseguia parar. Por mais que eu tentasse recolocar em minha mente que ele era um cretino, safado e cachorro, eu não conseguia pausar aquilo de maneira alguma.

- Ah, como senti sua falta... - Ele disse subindo beijinhos pelo meu queixo.

Eu odiaria admitir em voz alta, mas eu estava adorando aquilo. Eu me sentia bem outra vez.

Abri lentamente os olhos para observá-lo, mas meus olhos atingiram outra coisa. Atrás do sofá havia uma mesa, e nessa mesa eu podia ver um papel com a minha famosa assinatura. Era o meu projeto.

- Eu não acredito nisso, foi você! - O empurrei assim que ele chegava perto de meus lábios.

- O que? - Falou confuso.

- Você pegou o meu projeto! - Me levantei e fui até lá pegar o papel. - Como não suspeitei? É claro que foi você!

- Espera, eu tenho uma explicação.

- Ela não me interessa! Nada vai justificar o fato de você ter roubado isso de mim! Achou que eu não notaria? O que você queria? Mostrar isso para Sarah e dizer que era seu? Quer roubar meu emprego?!

- Não! Me deixe explicar primeiro! - Se levantou e veio até mim.

- Por que você pegou isso?! - Gritei.

- Por que você fez isso, hein? Por que tem uma pasta escondida cheio deles?

- Isso não é da sua conta!

- Mas é claro que é, isso foi feito há nove meses atrás! Ainda éramos casados, você me deve uma explicação!

- Não devo, me deixe em paz! - Tentei fugir, mas ele me pegou.

- Me diz! Por que você esconde isso? Por que isso tem vários nomes escritos atrás?!

- Justin, me solta! - Gritei desesperada.

Eu não aguentaria por muito tempo, as lágrimas já estavam a descer.

- Por que você me deixou, (Nome)!? - Me chacoalhou.

Fechei os olhos.

- Porque eu sou infértil! - Gritei e abaixei a cabeça.

Ele se calou e ficou me olhando surpreso, sem voz, sem palavras.

- Você é o que? - Continuou pasmo.

- Eu sou infértil, não posso. - As lágrimas não paravam e eu não conseguia

- Mas como...? Como você pode ter certeza que é você? Pode ser eu, (Nome)...

Respirei fundo, o levei até o sofá e nos sentamos. Respirei fundo de novo, e de novo.

- Acontece que eu já tive três abortos consecutivos. - Olhei para seu rosto e ele parecia assustado, ele estava arrasado. - E quando se tem tantos abortos consecutivos, é considerado como habitual. Ou seja, eu não posso aguentar uma gestação. E isso me torna infértil.

Ele segurou as minhas mãos.

- Tratamentos, nós podíamos...

- Fui proibida. - Fechei os olhos. - O médico me alertou que eu já estava correndo risco de vida e se tentasse novamente, poderia não ter uma próxima.

Ainda com os olhos fechados, eu sentia as lágrimas andarem.

- Mas por que você me deixou? Eu nunca deixaria de te amar só por uma incapacidade sua. Você é a minha mulher, estamos juntos na saúde ou na doença, se esqueceu?

Respirei fundo e finalmente abri os olhos aponto de ver os dele marejados.

- Sabe o quanto foi difícil? Você tem ideia do quanto sofri? Tem noção do que é ver um sangue escorrer e saber que não é o seu? Eu tenho. Eu me sentia desesperada, eu me sentia morta. Todas as vezes em que discutíamos esse assunto, eu queria fugir, mas sabia que uma hora teria de contar. Sei bem que errei, mas eu só queria te proteger. O meu coração quebrava, eu me sentia uma enganadora, uma mentirosa. Sei bem o quanto me machucou e também sabia que iria te machucar ainda mais. Não me entenda mal, mas foi loucura. Acha que eu não via seus olhos brilharem todas as vezes em que passávamos em um parque ou até mesmo em uma loja infantil? Por mim, teríamos dois filhos, seríamos felizes e tenho certeza que também seríamos bons pais. Mas não foi o que aconteceu... Eu te amo muito por mais que não tenha demonstrado nesses meses, mas você sempre soube. Meu amor me perdoe, mas foi a melhor solução que encontrei para nós dois, e tenho certeza que... não mudei de ideia.

Ele fechou os olhos por um breve momento, e uma solitária lágrima se escorreu em seu rosto.

- Se permita tentar, não podemos trocar tudo que tivemos! - Me olhou esperançoso. - Eu nunca deixei de te dizer, você sabe! Você foi a melhor coisa que já me aconteceu!

- Você conhece aquele famoso ditado, "Quando você ama uma pessoa, tem que deixar ela ir". Eu quero que você seja feliz, quero que construa uma família. Comigo, isso nunca vai ser possível.

- Você se esqueceu do resto do ditado. "Se um dia ela voltar, sempre foi sua, senão, nunca foi". Eu nunca saí do seu lado, ainda levo a sério nossos votos. É até que a morte nos separe.

- Sabe que se eu continuar tentando engravidar, é isso que vai acontecer, não sabe?

- Eu não preciso de filhos para ser feliz. Você é a minha felicidade.

- Eu adoraria acreditar, mas você sabe que isso faz parte de uma vida de casal. Um dia, as coisas ficarão tediosas quando perceber que não temos crianças para nos enlouquecer. Eu não quero adiar o sofrimento, apenas aceite. Eu não sou a mulher certa.

- (Nome)... - Soltou mais uma lágrima.

- Meu amor, eu não posso.

- Não faz isso comigo... - Segurou meu braço quando me levantei.

- Eu te amo... - Passei os dedos em seu rosto num gesto de carinho.

Andei até a porta e a abri, porém, antes de ir embora, olhei para ele. Ele me olhava com súplica, em pedido de piedade. Seus olhos estavam vermelhos e seu rosto estava ainda mais molhado, ele me encarava na espera de uma desistência de decisão, mas eu não pretendia voltar atrás.

Eu estava prestes a fechar a porta, quando vejo de seus lábios sair um "Eu te amo, Sra. Bieber" quase inaudível e logo depois uma expressão. Sorri fraco e finalmente fechei a porta. 

Assim que cheguei perto de meu carro, cheguei ao meu limite. Lágrimas de puro sofrimento escorreram livres sobre a minha face, eu não queria, mas era a coisa certa. Eu queria muito vê-lo feliz, e acabei por perceber que isso custaria a minha felicidade. Mas por ele valeria a pena. Aliás, nem toda história de amor pode ter um bom final.

Eu sabia bem que estava deixando o homem da minha vida naquele prédio, mas se eu realmente o amava, teria que deixá-lo ser feliz. Comigo ou sem mim.

FIM?




Meu Deeeeeus!!!! Eu amo essa história do fundo do meu coração sertanejo! 
(Não, eu não ouço sertanejo).

Mas, enfim... Para quem não compreendeu o motivo do suspeito ponto de interrogação, eu posso explicar: Para aquelas que querem um final alternativo, aquelas que preferem um final menos trágico, aconselho que leiam o próximo "capítulo". Sim, teremos um BÔNUS na história! Finalmente! Espero que tenham curtido essa história como eu e para quem lerá o resto, boa sorte. Beijos de diamante <3 #